A interessante história do ballet Estrela Negra de Bissau

Ballet Estrela Negra no espírito da reforma

Numa viagem a um dos pontos turísticos da Guiné-Bissau, a estância balnear Mar Azul, na margem de um dos muitos canais da água do mar que não pôde submergir as ilhas de mangais e outras habitáveis, deparou-se-nos um grupo cultural interessante.
Num ambiente de descontracção, o Ballet Estrela Negra de Bissau (FARP) exibiu vários números de dança do folclore de várias línguas faladas localmente expressando-os com extrema beleza.
Num segundo momento, apresentavam aos presentes, entre os quais membros das delegações angolana e bissau-guineense, uma peça teatral cujo propósito estava relacionado com os objectivos da missão angolana na Guiné-Bissau.
Era uma peça teatral na qual se realçava a necessidade de estabilidade do país, acabando-se com as makas político-militares e reconhecia-se a importância que revestia o processo de redimensionamento das forças armadas guineenses.
Trajados de fardas e armas simbólicas, representaram tudo quanto de mau a guerra provocava num país e acabaram por sensibilizar os militares a deporem as armas e abraçarem o processo de estabilização da Guiné-Bissau.
A expressão deste momento, resumiu-se à entrega, por um dos actores, de todo o espólio usado durante a apresentação como as armas e as fardas com que estavam equipados.
Na presença de dois comandantes de ramos das forças armadas guineenses, os actores entregaram-nas simbolicamente os apetrechos, arrancando palmas de todos os presentes no local.
A INTERESSANTE HISTÓRIA DO BALLET ESTRELA NEGRA DE BISSAU
É um grupo semi-profissional integrado por actores e bailarinos de vários extractos sociais que foi fundado há 35 anos e ficou adstrito às Forças Armadas.
Já fez actuações na Libéria, Guiné-Conackry e Senegal com uma mensagem, nos últimos tempos, voltada à consciencialização e apelos à cidadania.
O seu actual responsável é o segundo sargento da tropas guineenses, desde 2002, Amâncio António Sanca, que além de instrutor no centro de Cumeré, disse responder igualmente pelo sector da Cultura no exército da Guiné-Bissau.
“O grupo geralmente cria uma peça teatral que articula com uma dança”, disse Sanca para acrescentar que o ballet dispõe de uma certa universalidade ao interpretar e representar em qualquer uma das nove línguas mais faladas localmente a expressão cultural destes povos.
O conjunto da obra mais recente incorpora a peça sobre a “Reforma das forças de defesa e segurança”, apresentada no Mar Azul, mas já trabalharam numa outra sobre a reconciliação na Guiné-Bissau.
Também apresentaram-se ao público do seu país para abordar a problemática do narcotráfico, alertando para as graves consequências do fenómeno na vida dos guineenses, assim como montaram outro espectáculo sobre a “Luta contra O HIV dentro das forças armadas”.
Sempre com uma postura sensibilizadora, Amâncio Sanca lembrou que o grupo já interveio com este objectivo junto dos militares das frentes norte, leste e sul, quando elas estavam a passar por enormes dificuldades.
Sem grandes apoios, o Ballet Estrela Negra conta com as Nações Unidas, que estabeleceu um contrato para a montagem das peças ligadas ao HIV e à reforma, que foram exibidas em todas as unidades militares.
Questionado sobre o alcance da obra feita, Amâncio Sanca disse que a peça sobre a reforma das forças armadas tem merecido os maiores elogios, recebendo mesmo, segundo disse, “o apoio das altas patentes militares das forças armadas guineenses”.
Pessoalmente, apela a todos os militares a abraçarem o processo de reforma “para se acabar com os 11 anos de guerra e deixar o lugar para os mais jovens”.
Questionado se isso se vier a passar consigo, respondeu claramente que deixaria o lugar, mas disse esperar “que a reforma melhore o estatuto de todos que deram o melhor de si nas forças armadas”.
ASPIRAÇÕES
Estreante no grupo aos 12 anos, Amândio Sanca diz que gostava de poder representar a arte guineense, o talento do seu grupo noutros países do mundo mas as dificuldades são enormes e actualmente restringem-se ao interior do seu país.
Considera que a cultura guineense é valorizada internamente mas faltam apoios das entidades nacionais que superintendem este pelouro, já que as forças armadas dispõem de muito poucos recursos.
Manifestou o desejo de estabelecer intercâmbio com grupos de ballet angolanos para a troca de experiência e enriquecimento.
DIFICULDADES
Neste momento o grupo precisa de tambores, material de captação sonora, máquinas fotográficas profissionais e instrumentos como o kora, balafone e trajes típicos das várias etnias cujas manifestações artísticas representam no exercício da sua actividade.
Eugénio Mateus Enviado à Guiné-Bissau
30 de Março de 2011
13:03
 
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