Entrevista a César Inácio Vieira (por Ussumane Camará)

Cesar Inácio Vieira (Tio Cesar) Entrevista

Cesar Inacio Vieira, poeta e deficiente visual, nasceu em Empada, Região de Quinará, sector de Buba na Republica da Guiné-Bissau ao 11 de Novembro de 1964.

Ussumane Grifom Camará – Quando começou a escrever?

Cesar Inacio Vieira- Quando me perguntou à quando comecei a escrever para responder digo que comecei a escrever em Novembro de 1995 quando estudava em Brasil, no Belo Horizonte através so método Hebraile no Instituto São Rafael (escola destinado para os cegos), no fim de cada ano lectivo faziam o concurso de redacção onde é apresentados poemas e eu nem se quer queria participar porque sabia que esta lá gentes mais preparados que eu, logo que fizemos a redacção na turma que a Professora nos pediu, apresentei o meu trabalho a Professora leu a minha redacção e me falou “- concorre com este” o tema que apresentava era “a liberdade”, como a Professora insistiu dizendo para eu participar, então levei. Por espanto ouvi que fiquei no primeiro lugar, quem ficava na segunda posição era uma menina que também escrevia tema sobre “a liberdade”. Só que contrariava-nos uns aos outros e nem nos conhecíamos. Eu quando falava da liberdade dizia assim: “-A liberdade, te procurei, te procurei no mar, te procurei no céu, te procurei não sei onde e não te encontrou” e ela, menina, na sua versão dizia que “-A liberdade está dentro de si, dentro mim e dentro de nós.” Foi engraçado… (riso) nem nos víamos. Eu digo que não via a liberdade tendo em conta é o tema mais contraditório na filosofia é, a coisa que todo o mundo fala dele “ a liberdade, a liberdade, a liberdade…. Todo o mundo fala dele, por isso eu dizia que o procurava e não a encontrei.

Ussumane Grifom Camará- Como lidou com essa experiencia, a de ser o primeiro lugar naquele concurso em Brasil?

Cesar Inacio Vieira- Me motivou… me motivou bastante, fiquei muito satisfeito, porque naquela altura foi algo que não esperava, nem se quer escrevia dantes para ser dado como vencedor entre gentes que escreviam e conheciam a língua e, eu também naquele meio como estrangeiro me ajudava bastante durante os tempos que fazia na escola, portanto foi uma coisa muito interessante.

Ussumane Grifom Camará- Além de escrever o que é que o senhor faz?

Cesar Inacio Vieira- Eu, o meu trabalho todo é na igreja, eu sou catequista, salvo nesse momento que estou tentando criar uma associação, mas o meu trabalho é só na igreja e dou catequese.

Ussumane Grifom Camará- O quê que a poesia significa para você, César?

Cesar Inacio Vieira- Me falta palavras para falar do significado da poesia para mim, inspiro muitas das minhas poesias quanto estou sozinho e algumas chegava de as inspirar quando estava doente, quer dizer que é um respiro. Me parece sempre que faço uma poesia que estou a libertar do lugar preso onde me encontrava sem respirar nem dar fôlego e depois de poema um poema me sinto que liberto desse lugar, volto a ganhar força, a respirar de novo, ganho oxigénio, mas como dizia no inicio não encontro palavras para dizer o que a poesia significa para mim. No momento da solidão a poesia é uma companheira, é uma amiga, enfim… me alivia, sinceramente.

Ussumane Grifom Camará- Nos seus versos consegues trazer tudo que a poesia significa para você?

Cesar Inacio Vieira- Grande parte trago, tudo não, quer dizer, eu sou religioso quando não falo da força do Deus, palavras divina, quando pus tudo isso de lado, digo que a força que eu encontro para me tranquilizar, para me tirar donde estou é a poesia mesma.

Ussumane Grifom Camara- Cesar, já tem algum trabalho publicado?

Cesar Inacio Vieira- Publicado ainda não! Salvo não sei… tenho um amigo meu que foi para Brasil estudar, levou um caderno meu, a ultima informação que tive dele é que encontrou alguém que vai nos fazer o livro, me dizia que até no fim de Fevereiro o livro estaria fechado, mas até agora não tenho nenhuma informação, portanto não tenho trabalho publicado.

Ussumane Grifom Camará- Está me referindo a colectânea “Não me canso de esperar” que tomei o conhecimento através do site “didinho”?

Cesar Inacio Vieira- Pois é, deve ser que lançou uma coisa dessa no site mas, até agora não me disse nada directamente e já tenho informação de tem algo desse género na internet e lembro que tenho um trabalho com esse título “Não me canso de esperar”.

Ussumane Grifom Camará- Que impacto sente dos seus trabalhos aqui e em outros lugares onde tinham passados?

Cesar Inacio Vieira- Bom, algumas vezes fui entrevistado nas rádios, recordo que estava no programa de Gabriel Ié, na rádio Quelele, concorri no concurso Zé Carlos no ano passado e fiquei no terceiro lugar. Sinto que sempre que apresento o meu pobre poema, tem impacto, tem elogios, me encorajavam muito e sinto que mexeu muito com gentes, portanto sinto que impactos são grandes.

Ussumane Grifom Camará- O senhor já tem lidado com alguns escritores nacionais assim como estrangeiros?

Cesar Inacio Vieira- Sim, lidar directamente não, mas com os seus poemas sim. Gosto de lidar com programas, como sabes sou deficiente visual não li, as vezes rogo ler, mas acompanho pelas rádios, ouvi muitas poesias, são muito bonitos até e me ajuda na inspiração.

Ussumane Grifom Camará- Tem alguns escritores que admira mais, nacionais e estrangeiros?

Cesar Inacio Vieira- De facto, apesar de sou daqueles que não gosta de dizer que admira, mas de facto existe muitos que respeito como: Odete Semedo, me marcou muito, até um dia encontramos num encontro e falamos muito, falei muito dos seus poemas, sobretudo um poema que ela intitula “ Em que língua vou escrever “, sempre que ouvi esse poema parece que ela esta me referindo, sabe porquê? Porque eu tenho inspirações ma não tenho tanta técnica de escrever e tanto conhecimento linguístico por isso quando ouvi esse poema parece que está me referir (risos) … portanto é um poema que me tocou bastante. Hélder Proença, foi poeta que tanto gosto, inclusive que tenho gravado um poema dele “O baque de pranto”, é um poema que mexe muito comigo, Francisco conduto de Pina também tem poemas que me tocou como “ Vou ficar por aqui”, Vasco Cabral, aprecio também poemas de Agnelo Regala “Camarada Amílcar/ no chão vermelho do teu sangue, camarada” portanto foi assim muitos mexem comigo.



Ussumane Grifom Camará- E poetas internacionais?

Cesar Inacio Vieira- Internacionais oiço poucos mas, o grande e conhecido poeta Luís de Camões tem poemas bonitos e existe também muitos que já não estou a recordar os nomes, também existe o escritor que faleceu ultimamente não tenho seus poemas mas, acompanho livros que publicou, apesar de nos cortaríamos muito porque ele não é religiosos José Saramago (riso), até porque antes de sua morte publicou uma critica á Bíblia.

Ussumane Grifom Camará- Só uma pergunta de curiosidade, como deficiente visual como consegues deixar seus rabiscos de poemas na folha?

Cesar Inacio Vieira- Ok, como dizia o primeiro texto que escrevi foi através do método Hibraile (método destinado aos cegos) depois disso sempre que senti a inspiração chamo alguém para escrever por mim, o meu afiliado de nome Avelino Perreira (Tchico) sempre escreveu por mim, também já escreveu por mim o António Jesus (Dedé), Diodata, Caetano e muitos outros, fui o Avelino quem actualmente escreve mais por mim e tem todos os meus cadernos, agora não estou a escrever em letras Hibraile porque tive uma enfermidade que me perdeu o sentido do tacto, mas não só, devo deixa-los também na letra comum para facilitar a leitura e se alguém amanhã quer me ajudar a fazer um livro.

Ussumane Grifom Camará- Voltando para traz, nos seus poemas que li no site “didinho” falou muito de amor, podes comentar este facto?

Cesar Inacio Vieira- O que mais escrevo é amor, não escrevo facilmente a política, o que mais escrevo é amor.

Ussumane Grifom Camará- O que lhe inspirou tanto no amor?

Cesar Inacio Vieira- Lembro no inicio da entrevista eu dizia que a poesia é uma companheira, é uma amiga, me tira da solidão porque estou sozinho. É dos que mais me marcou, também gosto de lidar no meio da juventude, adolescentes e crianças os aconselho muito sobre o amor, a maneira de lidar de uns com os outros, recebi muitas queixas deles, inclusive me chamam muito para intervir entre famílias, estás a ver? Não obstante que, não casei mas resolvi muito problemas entre os casados, motivei já varias pessoas a se casarem, sempre a minha conversa com eles é sobre o amor e tudo isso me marcou e me inspira sempre, como disse não por não casei mas porque vivo sozinho, sendo o deficiente visual não aventurei na via de formar matrimónio embora, muitos deficiente formam matrimónios mas eu não aventurei e quando estou só poema torna o meu companheiro, sinto aliviado.

Ussumane Grifom Camara- O que tem para os novos escritores?

Cesar Inacio Vieira- Os que escolheram esse caminho que o peguem como um trabalho, uma vocação, de facto é um trabalho muito nobre e bonito, apesar de ainda não ser valorizado, porque a poesia ajuda e educa a sociedade e mais tarde vai merecer o lugar que mereceu na nossa sociedade.

Ussumane Grifom Camara-Talvez tem algo que eu não perguntei que gostasse de frisar?

Cesar Inacio Vieira- Não , penso que tudo foi dito. O que quero dizer é seguinte, Quando falam da poesia não o deve fazer com assim, leve. Não é nada de leve, é uma coisa que devemos falar dele profundamente, não de ânimo leve porque é de louvar. Aproveito essa entrevista para lançar um apelo para quem quer me ajudar no sentido de publicar os meus pobres poemas (risos), digo pobres, mas de qualquer forma é a inspiração, a técnica me falta mas existe a inspiração e que ajudem também os outros novos valores porque vai ajudar a juventude, que eles começam a ler. Portanto é bom ajudar (risos).

Ussumane Grifom Camará- Obrigado Cesar!

Cesar Inacio Vieira- Obrigado é meu! Meus agradecimentos.

Ussumane Grifom Camará- Obrigado!
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