O Mercado Central de Bissau (Féra di Praça)










O Mercado Central de Bissau, localmente conhecido como Féra di Praça, data da era colonial e situa-se no centro de Bissau.

Segundo a Agência PanaPress, o Mercado Central foi incendiado pela primeira vez em 1998, devido a bombardeamentos que ocorreram durante o conflito armado de 7 de Junho. Com a ajuda dos parceiros de desenvolvimento, foi reabilitado em 1999, pouco depois do fim da guerra civil.

Clique na imagem para ampliar.
Em 2006, foi totalmente destruído por um segundo incêndio (1) que, segundo o Comandante dos Bombeiros, não pôde nem sequer ser combatido pela corporação, pois "Não temos água corrente para as nossas operações de socorros no terreno e o único veículo colocado à nossa disposição está avariado há um mês". Notem que , segundo o Google Earth, a distância entre o Mercado Central e o edifício da Corporação de Bombeiros de Bissau é de aproximadamente 867 metros. E o porto de Bissau, cheio de água, fica a sensivelmente 372 metros ! Se um incêndio num lugar tão próximo não pode ser combatido, os que estão longe não têm a menor esperança... 


Passados cerca 4 anos, o mercado ainda está lá, em ruínas. Os comerciantes, por falta de opção e já deveras conformados, continuam a vender nas calçadas próximas às ruínas do mercado, em condições precárias e sem higiene ou segurança nenhuma. 

Em Fevereiro deste ano, conversei brevemente com uma senhora que vende frutas em frente ao minimercado Darling e, ao questioná-la sobre as condições em que trabalha, ela explicou-me que continuam a pagar diariamente uma taxa aos agentes da Câmara Municipal de Bissau. Já ouviram várias promessas de reconstrução do Mercado Central, e continuam à espera que as obras arranquem. 

Eu me pergunto se:
a) esse dinheiro arrecadado dos feirantes chega aos cofres do Estado; 
b) se chega, será que em 4 anos ainda não conseguiram arrecadar o suficiente para pelo menos começar as obras de reconstrução; e 
c) se o presidente da CMB sequer se importa com essa questão. 


Na minha opinião, não se trata apenas do conforto dos feirantes. É também uma questão de segurança pública, pois as condições em que a maioria dos  alimentos são vendidos certamente oferecem perigos para a saúde de quem os consome. Sem contar que é muito feio... calçadas foram feitas para as pessoas andarem, não para fazer feira!  E nem vou falar de vigilância e controle sanitário...

Em Julho deste ano, houve um outro incêncio (2) nas instalações da fábrica da Coca-Cola, que destruiu parte do Edifício ANCAR e causou muitos prejuízos às lojas que aí se situam.  Mais uma vez, os bombeiros lamentaram a falta de meios e “exigiram” melhoria das condições de trabalho.

Quantos incêndios mais precisam acontecer para que o Governo dê atenção?

O que dizer de um Estado soberano que, entre muitas outras coisas, não consegue equipar o principal quartel de bombeiros da capital, nem reconstruir um mercado popular? Corrijam-me se estiver errada, mas isso não é normal.


Certamente continuam à espera dos “parceiros de desenvolvimento”, que a esta altura já devem estar cansados dessa parceria infrutífera. Os guineenses têm que pôr na cabeça que temos de ser nós a resolver os nossos problemas, mesmo que outros estejam dispostos a nos ajudar. Acredito que, na maioria dos casos, a questão não é tanto a falta de meios financeiros, mas o descaso contínuo e crescente, assim como a revolta daqueles que, como eu, se sentem indignados por situações como estas.

Até quando vamos continuar a regredir, à espera de esmolas quando podemos arregaçar as mangas e fazer o trabalho que tem que ser feito? Até quando vão continuar a nos ajudar, se não nos mostrarmos merecedores dos apoios (muitos!) que nos tem sido dados?
A Guiné-Bissau tem muito trabalho para fazer. Tanto, que quando me ponho a pensar neles não consigo enumerá-los nem ordená-los por ordem de prioridade, mas o certo é que por algum lado temos que começar, seja lá qual fôr.

Fico contente quando vejo iniciativas de progresso, por menores que sejam. Sei como é difícil realizar coisas na minha terra, por isso nenhum esforço é pequeno. 
Enfim... a frustração é grande, mas a convicção de que é possível recuperar o país é  maior ainda! 

Para bons entendedores, algumas imagens bastam.


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(1) Notícia do incêncido no MCB
(2) Notícia do incêndio no ANCAR/Coca-Cola
(3) Posts nos blogs Bissau-Lisboa-Bissau e Espalharte sobre o Mercado Central  e a Baixa de Bissau - vale a pena conferir!


Se puder, por favor envie-nos fotos actuais do Mercado Central ( e/ou de outras áreas da cidade). 
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