Bissau que já foi e que não é mais ...

Bissau - Memória de Honório Barreto (fonte:http://reservanaval.blogspot.com)


Honório Pereira Barreto - Governador da Guiné

No seguimento de anteriores publicações, evocamos agora Honório Barreto, figura política que merece destaque na consolidação do percurso histórico da Guiné numa alongada primeira metade do século XIX, ainda que seja frequente e historicamente apelidado de«vilão e controverso». Nascido em Cacheu no dia 24 de Abril de 1813, filho de mãe guineense e pai cabo-verdiano, ascendeu três vezes em períodos diferentes e por mérito próprio ao posto de Administrador, ao tempo a hierarquia máxima daquela então Província.


Em cima, em grande plano, o monumento a «Honório Barreto» e, em baixo, vista geral da praça com o seu nome vendo-se por detrás o «Hotel Portugal».


Pese embora aquela região de África ter sido palco de intensas lutas e comércio de escravos, este último de forma obscura também por ele mantido, as fronteiras da Guiné foram marcadas e delimitadas muito por mérito daquele político e militar que, pela suas qualidades de dirigente, se opôs com determinação e eficácia à ganância inglesa. Não fora a sua visão estratégica e tenacidade, a Guiné teria hoje fronteiras bem mais reduzidas.


Bissau - Avenida Carvalho Viegas desembocando ao fundo na praça Honório Barreto.

A partir de 1800, a Inglaterra começara a exercer influência na Guiné, reivindicando a tutela da ilha de Bolama, arquipélago dos Bijagós, Buba e todo o litoral costeiro. Destaca-se nesta altura a figura do guineense Honório Barreto, provedor do Cacheu em 1834, o qual teve uma acção notável à frente do governo daquela Província.

Em 1870, com arbitragem do presidente dos EUA, Ulysses Grant, a Inglaterra abandona as pretensões sobre Bolama e zonas adjacentes e, em Maio de 1886, são delimitadas as fronteiras entre a Guiné Portuguesa e a África Ocidental Francesa, passando a região de Casamança para o controlo da França, por troca com a região de Quitafine, no sul do território (Cacine).


Bissau - Vista aérea do Liceu Honório Barreto (fotografado por volta de 1960).

A região de Casamança, hoje território senegalês e talvez a região mais rica daquele país pertencia então à Guiné. Apesar dos esforços pessoais, avisos e apelos feitos por Honório Barreto às autoridades portuguesas, inércia, displicência e hábitos herdados da escravatura, acabaram por determinar a entrega à França, «sem consternação e de uma forma vassala e feudatária, da região hoje mais rica do Senegal».

Não escamoteando a sua origem marcadamente nativa, Honório Barreto bateu-se, assumidamente e de forma ímpar, pelo Império português, assumindo postura de grande estadista o que lhe valeu honrarias e condecorações, considerando-se ele próprio como«um português da Guiné». Em 1853 cobriu-se de glória na grande sublevação da etnia dos«papeis» de Bissau, tal como, em 1856, na campanha contra os «nagos».


Em cima: A exemplo de outras figuras históricas, também Honório Barreto deu lugar à emissão de moeda com a sua efigie, neste caso as notas de mil escudos (1000 «pesos») do Banco Nacional Ultramarino, em 30 de Abril de 1964, de acordo com os Decretos-Lei 39221 e 44891. Em baixo: Selo comemorativo do centenário da sua morte.


Promovido a Tenente-Coronel de Artilharia de segunda linha, foi também galardoado com o grau de Cavaleiro da Ordem da Torre e Espada. Só muito mais tarde, aquele cargo passou a denominar-se de Governador, honra que lhe foi atribuída no ano da sua morte, ocorrida em 26.4.1859.


A homenagem do Governo Português na lápide fúnebre que encima a sua campa.

Fazendo parte do Dispositivo Naval da Marinha, sempre por curtos períodos, esteve ali estacionada por diversas vezes a corveta «Honório Barreto» – F 485. Naquele território terá desempenhado missões de 03AGO/17AGO, 13SET/01OUT e 28OUT/13NOV de 1973, 23JAN/04FEV e 04JUL/24JUL de 1974.


Em cima: A corveta «Honório Barreto» fundeada frente ao cais de Bissau em 1974 e, em baixo, a navegar em 1982.


Não há conhecimento de que algum oficial da Reserva Naval tenha pertencido à guarnição da corveta«Honório Barreto».



Após o final da guerra, a República da Guiné-Bissau sofreu das normais vicissitudes resultantes da alteração de regimes políticos por via dos conflitos armados, e foram vários, com adaptação da sociedade civil a transformações sociais profundas, marcadas pela necessidade de eliminar quaisquer vestígios físicos, históricos ou arquitectónicos, nascidos durante a vigência ou pela mão de outro regime anterior considerado hostil.

Lá, também como cá, ou em qualquer outro local de convulsões sociais, a memória histórica não é susceptível de ser apagada por mera vontade de momento, mesmo que compreensivelmente alicerçada em recentes feridas de guerra, abertas de ambos os lados e ainda por sarar.


Em Vila Cacheu, 2007/2008 - Nestes dois anos, no exterior e no interior da Fortaleza, respectivamente, imagens do busto de «Honório Barreto», parte do monumento desmantelado.

Sobreviveram pessoas, relatos, documentação e registos que darão, em devido tempo, lugar a pesquisa e investigação, cabendo a sociólogos e historiadores a construção de uma História dinâmica, sem hermetismos autocráticos.



Fontes:

Texto do autor do blogue, compilado a partir de:
http://historiaguine.com.sapo.pt/; http://mecckwamenkrumah.blogspot.com/; Setenta e Cinco Anos no Mar, 8.º Vol, 1993, Comissão Cultural da Marinha. Fotos de Dr. Carlos Silva (ex-Furriel Mil, CCaç 2548) , Bilhetes Postais n.º 129/130, Colecção «Guiné Portuguesa - Foto-Serra, Bissau; Imprensa Nacional, Casa da Moeda; cortesia do Instituto de Investigação Cientifica Tropical, Arquivo Histórico Ultramarino, http://actd.iict.pt/; Revista da Armada; http://www.coins-and-banknotes.com/Banknotes-World/World-Banknotes/Portuguese-Guinea/Portuguese-Guinea-Honorio-Barreto-at-right-cleaned-and-prep-43a-1964-F-1000.html; http://img15.imageshack.us/i/gui0620a.jpg/.

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