Guiné-Bissau: Acordo secreto permite a libertação de Zamora 2010-12-23 12:59:34
Bissau - A libertação de Zamora Induta, confirmada na véspera de Natal, acontece três meses depois do Tribunal Militar de Bissau ter decidido pela ilegalidade da detenção do ex-CEMGFA. Zamora, detido desde as movimentações militares de 01 de Abril, prepara agora em liberdade a sua defesa das acusações feitas pelo líder dos revoltosos de Abril, António Indjai, que o implicam nos casos das mortes de 2009.
Na altura da decisão do Tribunal Militar, as chefias militares e o próprio Presidente Malam Bacai Sanhá terão recuado uma vez que consideraram não estarem reunidas as condições de segurança que permitissem a libertação de Zamora Induta. No entanto, durante a noite de ontem, a residência de Zamora Induta manteve-se sem qualquer aparato de segurança policial correndo em Bissau rumores de que esta libertação «era uma armadilha».
Se a questão da segurança se manteve inalterada, o que mudou então na Guiné Bissau nos últimos três meses? A nível político, o braço de ferro que caracteriza a relação entre o Presidente Malam e o Primeiro Ministro Carlos Gomes Júnior mantém-se inalterado. A recente nomeação como Ministro do Interior de Dinis Na Fantchamena, aliado de Malam e adversário declarado de Carlos Gomes, indiciam que terá existido um acordo secreto entre as duas principais figuras do poder político guineense. Em troca de manter o controlo sobre o importante Ministério que controla as secretas e as polícias guineenses, Malam terá abdicado de manter na prisão o ex-CEMGFA Zamora Induta.
A análise feita por Malam, em conjunto com os seus assessores e aliados militares, terá concluído que neste momento, com António Indjai e Bubo Na Tchuto à frente das Forças Armadas, poucas hipóteses existem de que Zamora se possa constituir como uma ameaça ao poder vigente. Tanto Indjai como Bubo foram no passado pressionados por Zamora Induta, que via nas ligações ao narcotráfico dos dois chefes militares uma porta aberta à destabilização da Guiné-Bissau.
Zamora, que na página oficial das Forças Armadas da Guiné Bissau ainda aparece como o CEMGFA em funções, sofreu ao longo dos oito meses de detenção vários problemas de saúde. Dessa forma equaciona-se em Bissau a sua saída para tratamentos médicos. O Senegal é o país que neste momento recolhe o maior consenso por parte de António Indjai, Bubo Na Tchuto e o próprio Presidente Malam, dadas as ligações privilegiados que este mantém com o Presidente Wade, tanto a nível pessoal como político e económico.
A par da libertação de Zamora Induta, outros militares detidos por alegado envolvimento nas mortes de Tagme Na Waie e «Nino» Vieira foram também soltos. Manuel Mina, fabricante da bomba que vitimou o ex-CEMGFA Tagme Na Waie, a militar «Pomba Branca» e Malam Candé, acusados de transporte e detonação do mesmo engenho explosivo, também já passaram a noite nas suas residências em Bissau.
A libertação conjunta de todos estes elementos está a causar receios na comunidade diplomática actualmente em Bissau. Se a libertação de Zamora Induta era exigida pela Comunidade Internacional desde a sua detenção em Abril por falta de provas que sustentassem a detenção, já os três militares responsáveis pela morte de Tagme Na Waie terão confessado a sua participação no assassinato. “A libertação do Mina e dos outros envolvidos é sinal de que o inquérito às mortes de 2009, a grande bandeira do Presidente Malam junto dos seus parceiros internacionais, vai cair por terra”, referiram com preocupação fontes diplomáticas em Bissau. «Com este acordo, Malam sacrificou a Justiça pela vantagem política no xadrez da Guiné-Bissau», referem.
Rodrigo Nunes
rodrigo.nunes@pnn.pt
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Advogados defendem |
Guiné-Bissau: Zamora Induta e Samba Djaló devem permanecer no país Bissau - O grupo de familiares e amigos das figuras assassinadas em 2009 fizeram entrar esta segunda-feira, no Ministério Público, uma acção solicitando a permanência no país de Zamora Induta, antigo Chefe de Estado-Maior General das Forças Armadas, e de Samba Djaló, ex-responsável de serviços de contra-inteligência militar, suspeitos no caso da morte de Baciro Dabo e Helder Proença, em Junho de 2009.
O núcleo de advogados fundamenta esta acção com o objectivo de não perturbar a investigação em curso desde 2009.
Os dois oficiais, que se encontravam detidos há cerca de nove meses na sequência do levantamento militar de 1 de Abril, foram libertados na noite de quarta-feira e encontram-se já nas respectivas residências em Bissau a aguardar julgamento.
Lassana Cassama
(c) PNN Portuguese News Network
2010-12-28 10:14:00
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30-12-2010 18:26
Dois antigos responsáveis militares interditos de sair do país
Bissau - Dois antigos responsáveis do exército bissau-guinense, dos quais o ex-chefe de estado-maior, foram interditos de sair do país até o fim dos inquéritos judiciários sobre os assassinatos políticos, onde eles poderão ser implicados, soube-se hoje (quinta-feira) de fontes militares.
O chefe de estado-maior do exército bissau-guinense, o general António Indjai, pediu que o seu predecessor, o almirante José Zamora Induta, e o antigo chefe do serviço de informações militares, o coronel Samba Djalo, " permanecem no país ao menos até a conclusão dos inquéritos" judiciários, declarou a AFP uma fonte militar.
Segundo uma fonte próxima do tribunal militar, os dois oficiais são livres mas não podem deixar o país.
Induta e Djalo, detidos em Abril de 2010 no seguimento de um golpe de Estado a frente do exército, levado a cabo por António Indjai, foram libertados a semana passada. Zamora Induta é acusado de desvios financeiros.
Induta é igualmente perseguido com o coronel Djalo por "uma presumível implicação" nos assassinatos do presidente bissau-guinense, João Bernardo Vieira "Nino", em Março de 2009, e do ministro Baciro Dabo e do deputado Helder Proença em Junho do mesmo ano.
As famílias Dabo e Proença pediram a justiça para lhes interditarem a saírem do país, segundo uma fonte judiciária.
Situada ao sul do Senegal, a Guiné-Bissau conta com 1,5 milhões de habitantes que vivem, na sua maioria, na pobreza. O exército, formado a partir de antigos guerrilheiros, e muitos influentes nesta antiga colónia portuguesa independente, desde 1974.
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