Nô Pintcha: “Mais de 7 mil crianças em idade escolar estão fora do sistema”

Fonte: site do jornal Nô Pintcha (www.jornalnopintcha.com). Visite!

“Mais de 7 mil crianças em idade escolar estão fora do sistema”
- Afirma o Director Regional da Educação de Gabú

Já no final do segundo trimestre do ano lectivo 2010/2011, o Director Regional da Educação de Gabú, Anssumane Sissé, faz um balanço positivo do ano escolar na região. Em entrevista concedida ao "Nô Pintcha", o responsável máximo da Educação na região leste da Guiné-Bissau mostrou-se satisfeito pelas previsões dos resultados do ano lectivo em curso.
Anssumane Sissé disse que as projecções apontam para bons resultados do ano escolar na região, devido ao bom trabalho desenvolvido pela Direcção Regional e a sua equipa técnica, com o apoio e a colaboração dos pais e encarregados de educação dos alunos. Disse que a taxa de escolarização melhorou significativamente, naquela região com forte tradição islâmica, situando a taxa bruta de escolarização em 53%.
A aposta do responsável regional da Educação continua a ser a formação dos professores, isto porque, segundo ele, dos 672 docentes entre efectivos, contratados e eventuais da região, apenas 199 têm formação e 473 não têm formação. Daí, a necessidade de proporcionar estes reforços de capacidade pedagógica com vista a poderem acompanhar com o ritmo de crescimento do nível de escolarização.
Disse que a região conta actualmente com 43.756 alunos, dos quais, 22.053 são do sexo masculino e 21.703 do sexo feminino, o que em termos percentuais demonstra ligeira diferença entre os dois sexos.
Em termos de infra-estruturas, a região de Gabú conta com 278 escolas públicas, privadas e madrassas.

Nô Pintcha (NP) - O ano lectivo 2010/2011 está no penúltimo trimestre. Que balanço faz até aqui do presente ano escolar na Região de Gabú?

Anssumane Sissé (AS) – O ano lectivo em curso que está já no último trimestre posso dizer que o balanço é positivo, tendo em conta a meta que atingimos até aqui. Se tudo correr como está sendo neste momento, espero que o ano lectivo termine com sucesso, portanto bons resultados.

NP – Em que é que o Sr. Director se baseia para esperar tais resultados?

AS – Baseio-me em várias vertentes e indicadores a começar pelo empenho e dedicação da Direcção Regional e a sua equipa técnica, de todos os professores e da comunidade em particular, que não poupou esforços para o sucesso das actividades escolares em toda a região. Esta acção reflecte-se no plano de actividades definido desde os primeiros momentos dos preparativos do ano lectivo o que deu estes resultados que hoje temos e merecemos com todo o prazer.

NP - Qual é a sua expectativa em relação ao ano lectivo em curso e como prevê o aproveitamento dos alunos e do cumprimento de calendário escolar (refiro-me dos dias lectivos úteis)?

AS – Durante este segundo trimestre que ora termina, estivemos a fazer uma digressão pelos diferentes sectores da região, onde acabamos de realizar um Conselho Directivo no sector de Pitche. Há duas semanas atrás já fizemos a mesma coisa nos sectores de Sonaco e Pirada e agora falta-nos os sectores de Boé e Gabú para encerrarmos este ciclo de digressão.
É um conselho directivo que exige a presença de todos os directores afectos a cada sector a fim de podermos ouvir deles e saber dos problemas com que se depara, cada um, na sua respectiva escola e fazer algumas correcções e ainda saber do cumprimento do programa escolar.
Portanto, espero um máximo aproveitamento este ano da parte dos alunos, uma vez que se nota uma grande vontade, dedicação e empenho tanto dos alunos como dos pais e encarregados de educação. Isso nos encoraja a prever um bom ano lectivo na região para este ano.
Posso-te assegurar que até aqui não tivemos problemas em termos de cumprimentos do programa escolar. Sabe que isso também depende da capacidade organizativa e da acção de sensibilização que levamos a cabo no terreno. As últimas paralisações não afectaram a região, pois, as digressões que a equipa regional está a efectuar ao nível dos sectores nos permitiu concluir que haverá um cumprimento regular do programa este ano.

NP - O senhor Director tem ideia de quantos alunos existem a nível da região (sexo masculino e feminino)? Qual é a taxa de escolarização real?

AS – Ao nível da região existem quatro categorias de escolas, nomeadamente (públicas, privadas, comunitárias e madrassas). No total da região este ano tem 43.756 alunos. Destes, 22.053 são de sexo masculino e 21.703 do sexo feminino. A taxa de escolarização, apesar de ainda não dispor de dados reais, posso confirmar que ela melhorou bastante. E a diferença percentual entre os sexos é de 0,8%, o que por si só explica a melhoria notável com a subida da taxa de escolarização das raparigas. Isso nos encoraja bastante, pois, tal resulta do empenho particular das comunidades que são nossos principais parceiros que nos acudiu. Esperamos que já no próximo ano vamos poder atingir a meta que queremos em termos de escolarização das raparigas.

NP - Com quantas escolas conta a região entre, públicas, privadas e comunitárias e, com estas  infra-estruturas consegue satisfazer as necessidades reais da região?

AS - Em termos gerais, temos 278 escolas distribuídas da seguinte forma: sector de Boé conta com 26 escolas públicas e 6 comunitárias, totalizando 32. Pitche tem 51 escolas públicas e 12 comunitárias, totalizando 63. O sector de Gabú tem 49 escolas públicas, 5 madrassas, 18 comunitárias e 3 privadas, totalizando 75. Sector de Pirada conta com 25 escolas públicas, 20 comunitárias e 1 privada, totalizando 46 e o sector de Sonaco possui 25 escolas públicas e 34 comunitárias, totalizando 59. 
Apesar desta quantidade de infra-estruturas, ainda não se conseguiu satisfazer as reais necessidades da região. Isto porque, posso dizer que ainda cerca de 7 mil crianças ainda não identificadas, e em idade escolar estão fora do sistema. Na realidade, 11 mil não têm acesso ao sistema. Por isso mesmo, já para Maio próximo, vamos começar a sensibilização junto dos nossos parceiros (PLAN e UNICEF) para ver se podemos inverter esta tendência.

NP – Com quantos professores conta a região entre efectivos, contratados, formados e não formados?

AS - No geral, a região conta actualmente com 672 professores dos quais, 426 efectivos, 208 contratados e 28 eventuais. Destes, apenas 199 são formados e 473 não formados.

NP - Como é que o senhor director avalia o nível pedagógico destes docentes?

AS – Em termos do nível pedagógico existe uma diferença entre os professores formados e não formados, entre estes dois grupos, nota-se uma grande diferença. Isso significa que se distribuirmos 199 professores formados pelas 278 escolas, significa que será de 0,7% para cada escola, o que demonstra que temos ainda problemas. Pois, teremos que apostar ainda em formações contínuas, de forma a dar possibilidade aos efectivos para terem uma formação pedagógica. Porque alguns poderão ter alguma formação, mas, no aspecto geral poderá dizer-se que existe um desequilíbrio que tentamos corrigir, ainda no decurso do presente ano, para podermos equilibrar os professores formados nas escolas que temos ao nível da região.

NP - A região de Gabú tem uma forte tradição islâmica. Facto que teve sempre reflexo negativo na escolarização das raparigas, tendo em conta o preconceito da religião. Qual é a situação actual da presença de crianças do sexo feminino na escola? Houve ou não uma melhoria? O que é que motivou esta melhoria?

AS – Na verdade, como acabei de dizer atrás, há um excelente trabalho levado a cabo pela equipa técnica regional, através da ajuda de parcerias e conseguimos atingir sem dúvidas a meta preconizada neste sentido.
Neste momento temos mais procura em termos de aderência à escola, resultado de um bom trabalho que conseguimos fazer ao nível dos cinco sectores da região junto às comunidades. Outro aspecto importante é a comunicação, informação, ou seja, a sensibilização que fizemos. Se dantes existia este problema de tabu, hoje este está quase neutralizado, e as comunidades estão bem sensibilizadas sobre a importância e a necessidade de deixarem as crianças, particularmente as raparigas, irem à escola. E, elas compreendendo bem isso, assumem as escolas como suas propriedades, pois, tínhamos que fazer isso, porque afinal são os beneficiários das nossas acções e prestamos serviços a eles.
Em consequência, actualmente em todas as escolas existem comités educativos que beneficiam de várias formações e a mensagem conseguiu passar. Esta é uma das razões que motivou a inversão da situação, havendo agora maior aderência de crianças de sexo feminino à escola. Hoje, numa sala de aulas de 35 alunos pode-se encontrar mais de 50% de crianças de sexo feminino sobretudo nas escolas onde há mais forte intervenção de parceria.
Actualmente, estamos a generalizar o conceito “escola amiga das crianças”, porque é o mais abrangente, não excluindo nenhuma escola.    

NP - Qual é a maior dificuldade com que a sua Direcção se depara? Continua a haver o problema dos salários dos docentes na região?

AS – Como sabe, em qualquer trabalho há sempre dificuldades e quando elas surgem há que arranjar alternativas para as superar. Para quem conhece a região, a situação geográfica de cada sector e, quando há vontade, podem-se ultrapassar todas as barreiras ou contrariedades.
Contudo, diria que as principais dificuldades com que nos deparamos são a insuficiência de professores com qualificação profissional. Este é um desafio que temos sempre apresentado nos encontros com a Direcção superior do Ministério da Educação. Um aspecto que eu penso ser fundamental, uma vez que pretendemos cada vez melhorar o nível de aprendizagem dos alunos.
Outra dificuldade, não menos importante, é o caso da insuficiência de alguns materiais didácticos e de equipamentos (caso de carteiras) em algumas escolas. Este ano, graças ao apoio do Governo japonês, através do UNICEF, conseguimos muitos materiais didácticos que, neste momento, estamos a distribuir a nível de todas as escolas da região. Nesta primeira fase estamos a distribuir manuais da 1ª à 5ª classe e posteriormente para a 6ª classe. São materiais que chegaram, de facto, no momento oportuno já que estamos no final do ano lectivo.
Por isso, a orientação da Direcção é que seja feita no máximo para que os alunos possam ter acesso a estes livros antes dos exames finais e possam ter bons resultados.

NP -  Sr. Director espera que estes materiais vão melhorar muito a aprendizagem dos alunos?

AS – Imagine, há cinco anos que não existem estes materiais e, com eles, torna-se fácil ensinar as crianças e irão permitir que as mesmas possam consultar em casa e melhor assimilar os conhecimentos recebidos. Só que orientamos os pais e encarregados de educação dos alunos a forma correcta para o uso destes materiais. Porque, conforme as orientações do Ministério da Educação, no fim do ano lectivo serão recolhidos todos os livros e guardados em locais seguros que já seleccionamos. Depois, no início do novo ano lectivo serão novamente distribuídos para os novos alunos.
Esta mensagem conseguiu passar e esperamos que com estes materiais os alunos terão um nível mais qualificado, sobretudo no ensino básico.

NP – Sr. Director falou muito de parcerias e sabemos que as ONG’s estão também a contribuir muito no desenvolvimento do sector educativo. Como é que o Senhor aprecia a acção destas?

AS – Aprecio positivamente e de forma louvável. Considero as acções das ONG’s de muito relevantes, na medida em que consegue fazer ou atingir lá onde o Estado não consegue. Portanto, são verdadeiros parceiros do Governo. Estas organizações estão a contribuir muito na redução da taxa de analfabetismo no seio das comunidades, particularmente das mulheres.
Quero aqui destacar o caso da “Tostan” que intervém no sector de Pirada, apoiando o funcionamento de muitos círculos de alfabetização, o Governo japonês, através do UNICEF apoia 25 círculos, a DIVUTEC que criou e apoia o funcionamento de vários círculos de alfabetização nos diferentes sectores da região e ainda trabalha com o UNICEF, apoiando várias escolas e a OMVG que também apoia o funcionamento de 15 círculos.
Com esta alfabetização, hoje muitas mulheres sabem ler, escrever o seu nome e fazer contas, reduzindo deste modo o índice de analfabetismo.
 
NP – Significa que o Sr. Director encoraja a continuidade das acções de alfabetização?

AS – Como sabe, esta região é considerada como a com maior taxa de analfabetismo. Por isso, arregaçamos as mangas para combatê-lo, a fim de podermos cumprir, na íntegra, as orientações do Governo, particularmente do Ministério da Educação.

NP – Algum apelo que queria deixar?

AS – Antes do apelo, quero agradecer a todos os parceiros, a começar pelo próprio Ministério da Educação, as ONG’s e outras instituições de apoio que nos têm prestado todo o tipo de ajuda, sem o qual não poderíamos ter sucesso.
Daí, o meu apelo vai no sentido dos parceiros continuarem a apoiar esta região que tanto necessita deles, tendo em conta a sua particularidade.


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