Grande astro da seleção de UgandaDavid Obua acredita que o seu país está prestes a conquistar o tão esperado retorno à Copa Africana de Nações, o que lhe daria a chance de realizar um sonho antigo e ainda igualar o feito do pai. "É tudo que eu quero." É com essas palavras que o melhor jogador do Campeonato Sul-Africano de 2007 e hoje destaque do clube escocês Hearts of Midlothian evoca uma eventual classificação para a competição de 2012 na Guiné Equatorial e no Gabão.
Obua é uma figura carismática tanto em Uganda quanto em Edimburgo, onde está completando a sua terceira temporada de sucesso no Campeonato Escocês. Ao final do compromisso, ele voltará para Kampala, mas não para descansar. "De jeito nenhum", diz. "Mal posso esperar para chegar em casa, porque preciso ir treinar com os meus companheiros."
A preparação, no caso, terá em vista a partida contra Guiné Bissau em casa, pelo Grupo J das eliminatórias, no dia 4 de junho. Se a seleção conquistar os três pontos, poderá abrir uma confortável vantagem na liderança. Como apenas o vencedor da chave garante vaga entre os 16 participantes do torneio, Uganda colocaria praticamente um pé na sua primeira Copa Africana desde 1978.
Seguindo os passos do pai
Foi naquele mesmo ano que os ugandenses conquistaram um histórico vice-campeonato na competição continental, da qual nunca foram campeões. O pai de David por pouco não teve a oportunidade de fazer parte daquela campanha, embora tenha desempenhado um papel fundamental nas três participações anteriores, em 1968, 1974 e 1976. Dennis Obua, que chegou a ser presidente da Federação Ugandense de Futebol, morreu no ano passado, mas as conquistas da sua brilhante carreira continuam a servir de motivação para o filho de 27 anos. "Trabalhei muito duro no passado, com vários grupos de jogadores diferentes", diz David, para explicar a longa caminhada percorrida em busca do sonho africano. "Esse era o desejo do meu pai, é o dos torcedores, e nós queremos deixá-los orgulhosos. Acho que estamos quase lá. Se derrotarmos Guiné Bissau em casa, acredito que conseguiremos a classificação."
Precisamos apenas continuar vencendo os nossos jogos em casa para nos classificarmos. Será a melhor coisa que já aconteceu com o futebol de Uganda.
As duas últimas e decisivas partidas não serão fáceis: primeiro contra Angola, fora de casa, e por fim diante da rival e vizinha Quênia, em Kampala. Mas Obua sabe que agora é hora de pensar apenas em Guiné Bissau. "(O próximo jogo) será difícil", analisa. "Em março, conseguimos vencê-los jogando fora, mas vimos que eles têm uma boa seleção e que jogaram muito bem, e a última coisa que podemos nos permitir é uma derrota em casa. Acho que, se ganharmos de Guiné Bissau, poderemos garantir a vaga. Precisamos apenas continuar vencendo os nossos jogos em casa para nos classificarmos. Será a melhor coisa que já aconteceu com o futebol de Uganda."
A classificação também colocaria um ponto final a uma série de decepções em torneios eliminatórios, nos quais Uganda se acostumou a morrer na praia. "Tentaram nos desestabilizar no passado", desabafa o jogador. "Sempre acontecia alguma coisa que nos impedia de conseguir a classificação. Os jogadores não recebebiam a tempo as passagens de avião dos clubes, os voos não eram reservados, algumas coisas eram mal feitas. Assim era impossível conquistar a vaga, mas agora tudo está correndo da maneira certa, principalmente os detalhes que importam. É por isso que estamos indo bem."
Um bom pressentimento
Obua não se esquece também de destacar o papel importante que o técnico escocês Bobby Williamson tem tido no reerguimento do futebol ugandense. "Ele é um bom treinador, um motivador. Está sempre tranquilo no banco, sempre nos incentivando. É disso que os jogadores africanos precisam. Se você coloca pressão sobre eles o tempo todo, nunca conseguirá aproveitar tudo que podem render", explica David, que compartilha a liderança da seleção com o zagueiro Ibrahim Sekajja, radicado na Áustria.
Eu tinha a confiança e a certeza de que éramos capazes de ir lá e fazer alguma coisa.
Obua diz que sempre teve um bom pressentimento sobre as eliminatórias e conta a conversa que teve com Sekajja antes do início da disputa. "Quando o grupo foi sorteado (com Angola, Guiné Bissau e Quênia), eu e Ibrahim sentimos realmente que esta era a nossa chance. Jogamos juntos na seleção há um bom tempo, então conversamos sobre isso e eu lhe disse: 'É agora, Ibra. Se não conseguirmos passar desta vez, nunca mais conseguiremos'. Mas eu tinha a confiança e a certeza de que éramos capazes de ir lá e fazer alguma coisa. Tínhamos que passar essa mensagem aos outros jogadores e dizer a eles que teríamos de dar o nosso máximo em cada partida que disputássemos."
O ex-jogador do Kaizer Chiefs, que costuma exercer um papel mais defensivo no clube e mais ofensivo na seleção, tem gostado de ver como o elenco ugandense entendeu o recado. "Temos um grupo unido e o pessoal é dedicado e disciplinado. A rapaziada mais jovem é realmente incrível, eles trabalham como loucos, e isso é o mais importante. Se você lhes der confiança, eles vão jogar muito bem. É isso que o técnico tem feito."