"Um novo olhar sobre a Guiné-Bissau" - exposição de pintura batik

“Um Novo Olhar sobre à Guiné-Bissau”



“ Quando o ouvido se torna, o único repositório da ligação com a informação…Tudo o que se escuta converte-se no único observatório do imaginário…”  Michel Serres


" Um Novo Olhar sobre à Guiné-Bissau" é este o título escolhido para a exposição de Pintura Batik, do guineense Anselmo José Godinho, que a partir de ontem está aberto ao público e estará até a próxima quarta-feira, dia 1 de  dezembro, na galeria Casa da  Cultura,  na rua Angola, em Santa Iria da Azóia. Chegou-me às mãos, graças ao amigo e conterrâneo, Joãozinho Ié, por via da Internet. Logo virtual!

Quis logo conhecer melhor o pintor guineense, Anselmo José Godinho. Ao telemóvel conversamos e em género de entrevista para ser publicado, confessou que aprendeu esta técnica de pintura “em Gâmbia, graças a uma Bolsa de Formação, atribuída pela delegação da União Europeia (UE), em Bissau”. É uma técnica tradicional, Batik, onde o tecido substitui, neste caso à tela ocidental, e é no Batik, que consegue exprimir, comunicar e “tentar passar uma mensagem” para o Mundo.

Nascido na Guiné, José Godinho, começa a desenhar com o carvão no chão, e só depois começa à lapíscar, como ele próprio confirma “na minha infância com ajuda de um primo mais velho”. Se expõe ao público pela primeira vez em 1995, num evento realizado pelo Centro Cultural Brasileiro de Bissau, e lembra-se que nessa altura deu uma entrevista – “ foi a um jornalista do jornal português ‘Independente’, olha tem o um apelido igual ao seu, Araújo… Jorge Araújo, se a memoria não me falhar, é este o nome, engraçado nunca mais soube dele???”.

Quando através do aparelho móvel, tentamos perceber melhor, descortinando um pouco mais o que pretende mostrar, com os quadros com este título “Um novo olhar sobre a Guiné-bissau” foi sintomático “ partiu duma pergunta que fiz a minha cabeça, o que posso fazer, para mudar essa imagem que se criou do meu país?”.

“Muita gente com quem tenho conversado aqui em Portugal, julga que nós os guineenses somos violentos…tenho-os dito que isso é a imagem que se tem passado, por causa dos conflitos políticos, pois na realidade nós somos pacíficos”. E o quadro que levanta essa questão é essa do flayer da exposição, que ilustra esta pequena crónica.

“Ainda sonho um dia acordar e, ver na televisão ou ler notícias mais positivas sobre a minha terra, onde às pessoas convivem num ambiente político, verdadeiramente democrático, onde não se utiliza à violência como única via para resolver os problemas, onde não se torture e se humilhe pessoas como se tem feito até agora…” disse José Godinho que considera ainda, alimentar uma pequena esperança – “ espero poder um dia levar esta exposição para à Guiné-Bissau, mas primeiro, tinha que dar este primeiro passo que foi fazer esta exposição, aqui em Portugal, e foi graças a  um microcrédito concedida pela Associação Nacional do Direito ao Crédito, e  ao espaço cedido pela Junta de Freguesia Santa Iria de Azóia… Por exemplo tive que ir comprar as tintas em Gâmbia, pois as comercializadas cá em Portugal, não se adapta ao pano”

Acredita dedicar-se um dia só à pintura, para produzir mais quadros, divulgar o Batik esta expressão de arte, mas tudo depende como confessa “de como vai correr esta primeira etapa”. Quando terminou a nossa conversa por telemóvel, embora não o conheça pessoalmente, e sem mesurar juízos de valor, quem sou eu para julgar quem, mas imaginei que o Anselmo José Godinho, um conterrâneo com uma ligação forte e profunda com à Guiné. Conhecendo as dificuldades e adversidades da emigração, de cor e salteado, como todos aqueles que um dia tiveram que deixar o país onde nasceram. 

Mas (dizia) imaginar que se consegue tempo e dedicação para a pintura Batik, e depois do que escutei da nossa conversa,  não vou poder fugir aquela expressão popular que diz cito “quem fala assim não é gago”. Pois pelas palavras proferidas, senti logo que valeu a pena e foi muito interessante, a conversa. Porque em poucas palavras e de forma simples, Anselmo José Godinho, revelou, a sua forma de sentir o país que o viu nascer, fazendo o que sabe e pode. Obrigado irmão, ajudou-me a ter uma matéria para publicar aqui neste mural que se chama Ordidja. Ao leitor que vai nos acompanhando, nas horas vagas, resta-me apenas convida-lo a aceitar aquele abraço, deste que acende o holofote, quando se entra neste espaço virtual.  

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Resnullius

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