Nuno Tristão: memórias de uma estatua abandonada

Nuno Tristão – Primeiro navegador europeu a atingir a actual Guiné-Bissau


No seguimento do anterior artigo publicado, evocamos agora Nuno Tristão, outra figura ímpar na história dos descobrimentos e da exploração da costa africana, uma vez ter sido o primeiro navegador europeu conhecido a atingir o território da actual Guiné-Bissau.


Bissau, 1966 – A estátua de Nuno Tristão, no final da Av. da República, no sentido descendente. No mesmo sentido, na direcção do rio, a Av. Marginal, o cais do Pijiguiti e toda a zona portuária. À esquerda o edifício da Casa Gouveia, hoje Armazém do Povo.

Na cidade de Bissau estava representado por um monumento na rotunda existente no final da Av. da República, sentido descendente, a partir da Praça do Governador, virado para o cais do Pijiguiti e para o Mar. Sempre o Mar! Continuando o percurso no mesmo sentido deparar-nos-íamos, para a esquerda, com a Av. Marginal e, para a direita, com as Instalações Navais de Bissau (INAB). Era, como outros, um quase obrigatório percurso na zona comercial em áreas adjacentes ao porto.



Numa abordagem de simples retalhos, alijando alargados considerandos próprios de historiadores, terá sentido recordar alguns pormenores do dia-a-dia da época. Era bem o caso da moeda corrente, o escudo, cuja representação facial das notas de cinquenta e cem escudos ostentavam a efígie daquele navegador.



Na época, os escudos cediam a denominação a “pesos”, passando a notas de cinquenta ou cem pesos. Quem se não lembra de, na linguagem corrente, em vez de “muito caro” ouvir “manga de pesos” ou “manga de patacão”?


Também aqui, no Continente, em 1987, foi emitida uma moeda comemorativa com o valor facial de cem escudos, na tiragem de um milhão de exemplares, da autoria dos escultores Isabel Carriço e Fernando Branco. Evocando Nuno Tristão, naturalmente.
Nuno Tristão(? — costa de África, 1446?) foi um navegador português do século XV, explorador e mercador de escravos na costa ocidental africana. Foi o primeiro europeu que se sabe ter atingido o território da actual Guiné Bissau, iniciando entre os portugueses e os povos daquela região um relacionamento comercial e colonial que se prolongaria até 1974.
Em 1441, Nuno Tristão e Antão Gonçalves foram enviados pelo Infante D. Henrique com a missão de explorar a costa ocidental da África a sul do Cabo Branco. Integrando um mouro que actuava como intérprete, Tristão, a expedição liderada por Nuno Tristão ultrapassou aquele Cabo, à altura o ponto mais meridional atingido pelos exploradores europeus, e durante dois anos permaneceu nas águas do noroeste africano, avançando até ao Golfo de Arguim, na actual costa da Mauritânia, onde adquiriram 28 escravos.
Em 1445 navegou até à região da Guiné, encontrando uma terra, que, em contraste com as regiões desérticas a norte, existiam muitas palmeiras e outras árvores e os campos pareciam férteis. Em 1446 Nuno Tristão desembarcou nas proximidades da actual cidade de Bissau, iniciando uma presença portuguesa na região que se prolongaria por quase 500 anos.
Nuno Tristão foi morto em data desconhecida, provavelmente no ano de 1446, durante um assalto destinado à captura de escravos, ocorrido na costa africana, cerca de 320 km a sul do Cabo Verde.




Após o final da guerra, a república da Guiné-Bissau sofreu das normais vicissitudes resultantes da alteração de regimes políticos por via dos conflitos armados, e foram vários, com adaptação da sociedade civil a transformações sociais profundas, marcadas pela necessidade de eliminar quaisquer vestígios físicos, históricos ou arquitectónicos, nascidos durante a vigência ou pela mão de outro regime anterior considerado hostil.

2007 - Em Vila Cacheu, a estátua de Nuno Tristão abandonada no exterior do forte.

Lá, também como cá, ou em qualquer outro local de convulsões sociais, a memória histórica não é susceptível de ser apagada por mera vontade de momento, mesmo que compreensivelmente alicerçada em recentes feridas de guerra, abertas de ambos os lados e ainda por sarar.


2008 - Em Vila Cacheu, desta feita dentro do forte, Nuno Tristão parece necessitar de apoio, encostado às ameias.

Sobreviveram pessoas, relatos, documentação e registos que darão, em devido tempo, lugar a pesquisa e investigação, cabendo a sociólogos e historiadores a construção de uma História dinâmica, sem hermetismos autocráticos.



Fontes:

Texto do autor MLS do blogue 
http://reservanaval.blogspot.com; bibliografia do Dicionário de Navios, Comandante Adelino Rodrigues da Costa, 2006; fotos do Arquivo de Marinha, Dr. Carlos Silva (ex-Furriel Mil, CCaç 2548) e Foto-Serra, Bissau; Imprensa Nacional, Casa da Moeda.
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Resnullius

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