Escrito por Ibraima Sori Baldé |
Sexta, 29 Abril 2011 15:55 |
Governo adquire dois navios para transporte de pessoas e cargas Se não houver alterações de última hora, até ao próximo dia 20 de Maio, dois navios de transporte de pessoas e cargas vão chegar ao país, minimizando assim as dificuldades com que o sector se depara. Preocupado com a situação do transporte marítimo, o Governo adquiriu as duas embarcações por um valor de 1.800 milhões euros. Em declarações à imprensa, à margem do lançamento da primeira pedra do projecto de pavimentação do recinto do Porto Comercial de Bissau, realizado no dia 27 de Abril, o secretário de Estado de Transportes e Comunicações informou que se tratam de dois navios típicos para as localidades onde não haja porto. José Carlos Esteves lembrou que a quase totalidade dos portos na zona Sul foram construídos depois de independência, sendo que nas ilhas também a maioria dos quais se encontram em estado muito avançado de degradação. Fez saber que as embarcações podem atracar nos cais ou nas praias, porque têm a possibilidade para navegar até uma profundidade de 1,5 metros. Desde já, ele avançou com o nome dos barcos ora comprados: um chama-se “Bária” (uma localidade do sul do país) e o outro “Pecixe” (povoação do norte). O governante indicou que os aparelhos estão devidamente equipados, apontando o exemplo de “Bária” que tem uma capacidade para transportar um total de 420 toneladas, incluindo 56 viaturas tipo automóvel. Tem cabines turísticas com a lotação para 300 pessoas, possuindo ainda oito dormitórios, um bar e com todos os equipamentos de navegabilidade para a costa. Tem uma dimensão de 60.36m x 12.30m x 2.25m, com a capacidade de armazenar 30 mil litros de combustível. Tal como o outro, é de fabrico grego. Foi construído em 1975 e restaurado por duas vezes, nomeadamente em 1989 e 2004. Por seu lado, o “Pecixe” – o mais pequeno – tem a capacidade para carregar 70 toneladas em bruto, incluindo 22 viaturas e 150 passageiros. Fabricado em 1988, na Grécia, a embarcação tem a dimensão de 30m x 10.5m, e pode armazenar 13 mil litros de combustível. No entanto, Esteves informou que o contrato de compra e venda já foi assinado e os 30 por cento de pagamento feitos, acrescentando que a outra parte já foi agendada pelo ministro das Finanças. “Os nossos técnicos estão na Grécia. Quando for assinada a acta de recepção de que o navio está tecnicamente bom vamos emitir os restantes 70 por cento para que as embarcações possam vir para Bissau, onde devem chegar o mais tardar até 20 de Maio”, adiantou. Pegando nas palavras do secretário de Estado, que acredita que o Governo fez “uma boa compra”, os dois barcos vão fazer face à falta de transporte marítimo no país, na medida em que deslocar-se-ão ao Sul, Norte e Ilhas Bijagós. Segundo ele, os mesmos vão facilitar o desencravamento da produção agrícola na zona Sul, fazendo ligação Cacine-M’Pugda-Catió-Enxudé-Bissau. Indicou que o “Bária” vai fazer fretes para Bolama e Bubaque, domiciliando nesta última cidade, com vista a fazer ligação inter-ilhas. “Outro navio vai a Bubaque e vamos criar rotas para ir à zona Norte, nomeadamente Pecixe e Jeta para também poder desencravar aquela área. Vamos priorizar esta zona. Os dois navios vão cobrir a nível interno”, garantiu, afiançando que, com este plano, o problema do transporte marítimo fica resolvido, restando apenas a componente que tem a ver com a cabotagem sub-regional. Ligação com os países emergentes “Falamos de uma embarcação que pode transportar até 10 contentores, saindo de Bissau para Banjul, Dakar, Praia e Conakri. Isso permite-nos ligar com os países emergentes, nomeadamente China, Índia, Dubai e Brasil. Brasil tem linha directa com Cabo Verde; China com o Senegal; Índia com a Guiné Conakri; depois há um conjunto de países europeus com linha directa com Banjul”, afirmou o secretário de Estado de Transportes e Comunicações. Havendo um navio nacional que faz estas ligações todas, adiantou, significa que os nossos comerciantes podem importar produtos a partir desses países para Bissau, fazendo transbordos sem custos de camiões. Lembrou que, actualmente, um camião de Dakar para Bissau tem o custo de 1,5 milhões por contentor, enquanto que no barco os valores podem ir até 300 euros. Por isso, está convencido que essas medidas vão facilitar na criação de um ambiente de negócios e permitir que os comerciantes guineenses tenham acesso a outros mercados mais baratos. “O nosso objectivo é sempre criar um ambiente de negócios e desenvolver o nosso mercado nacional, sendo o transporte um factor fundamental para isso”. E sendo a Guiné-Bissau um país costeiro, ele acha que se deve começar pelo transporte marítimo e depois ir para “os mais complexos” que é o transporte aéreo e outras modalidades. Para quem não sabe, a compra desses navios pode constituir uma surpresa. Mas, de acordo com José Carlos Esteves, é uma das actividades constantes no Programa do Governo, a aquisição de embarcações para a cabotagem nacional e outras para a sub-região, na base de execução orçamental de dois anos, que permitiu o Estado, com o apoio bilateral de Angola, disponibilizar cerca de dois milhões de euros para a obtenção desses barcos. Pavimentação do Porto Comercial de Bissau Entretanto, a primeira pedra do Projecto de Pavimentação do recinto do Porto Comercial de Bissau foi lançada oficialmente no passado dia 27. Trata-se de um plano para pavimentar mais de 45 mil metros quadrados, estimado em pouco mais de 3.8 biliões de francos CFA. O mesmo atende aos modernos conceitos de infra-estruturação do principal porto de comércio com exterior e vai agregar ao terminal da capital uma capacidade de movimentação de mais de 72 mil contentores. A pavimentação e ampliação dos parques de contentores, incluindo as rodovias de circulação do recinto portuário; a execução e expansão da rede de abastecimento de água potável; a reabilitação e ampliação da rede de drenagem e esgotos de água pluvial são algumas das empreitadas da obra. Contempla ainda a aquisição e instalação de duas básculas electrónicas para a pesagem de cargas dedicadas à importação e exportação, assim como instalações das redes de telecomunicações e eléctrica de baixa tensão. O projecto é financiado pelo Banco da África Ocidental (BAO, Guiné-Bissau) e a própria APGB, cujos empreiteiros são as empresas ASCON Lda. e a Água, Saneamento e Construções Lda. A execução das obras deverá durar cerca de 16 meses, com a entrega prevista para Agosto de 2012. Tornar Porto de Bissau altamente competitivo A cerimónia de lançamento foi presidida pelo ministro das Infra-estruturas, em representação do Primeiro-Ministro, na presença de alguns membros do Governo, deputados, funcionários da Administração dos Portos da Guiné-Bissau (APGB) e outros convidados. A ocasião serviu para José António Cruz de Almeida afirmar que a modernização dos Portos de Bissau constitui uma prioridade do actual Governo, na medida em que mais de 80 por cento de todas as mercadorias movimentadas no país passam por ai. Dai que, segundo ele, há uma necessidade de se investir cada vez mais no porto e no sistema portuário, com especial destaque para aqueles de cabotagem, situados no interior do país, particularmente no Sul. Nesta perspectiva “evolutiva de bem servir”, prosseguiu, o Governo pretende adquirir mais dois navios (entretanto já supracitados) para fazer ligações marítimas com todas as zonas insulares e permitir maior flexibilidade e fluidez no intercâmbio de produtos e mercadorias entre os centros urbanos e as diversas regiões. Ou seja, criar condições mínimas indispensáveis para o desenvolvimento do interior e promover o crescimento económico da Guiné-Bissau. Cruz Almeida referiu que é notório o desafio de fazer mais e melhor, de assegurar os trabalhos de dragagem e balizagem ao longo do canal do Geba, por forma a garantir a entrada e saída dos navios em condições ideais de segurança, tornando o canal navegável 24 horas por dia. Indicou ainda que é intenção das autoridades guineenses desenvolver a cabotagem nacional, formar técnicos portuários “altamente qualificados”, incrementar investimentos estrangeiros, através de parcerias público-privadas, ou seja, modernizar e tornar altamente competitivo o Porto Comercial de Bissau. Na sua opinião, vencer os referidos desafios está nas mãos de todos, pelo que encorajou a APGB a manter a sua “boa performance financeira” e na mobilização de fundos, na certeza de que o Executivo fará todo o esforço necessário para a materialização desses objectivos. Recuperação do navio “Sambuia” em vista O secretário de Estado dos Transportes e Comunicações, na sua intervenção, disse que não será novidade o facto de a Guiné-Bissau ser um país marítimo pela sua expressão geográfica, mas que, no entanto, não consegue valorizar o mar como um importante recurso, criador de rendimento e de riqueza. José Carlos Esteves considera que não podem existir condições favoráveis ao negócio na Guiné-Bissau se, no seu fundo, não existir um forte factor portuário com infra-estruturas modernas para atrair as indústrias dos transportes marítimos, cada vez mais exigentes. “O Porto de Bissau tem vivido problemas crónicos de organização e competitividade, problemas esses que ainda não estão verdadeiramente solucionados. Por isso, consideramos a execução deste projecto particularmente importantes”, atirou. Apontando a estimativa de um estudo, esse responsável revelou que o Porto de Bissau estará em condições de triplicar a actual capacidade de estocagem de contentores e mercadorias, já no próximo ano. Assim, garantiu que o local vai responder ao aumento do tráfico de contentores nos últimos anos e permitir ao país disputar a quota do mercado com os seus congéneres da sub-região. Anunciou para os próximos tempos a execução das obras de dragagem do porto e da zona de acesso e de ancoradouro, a reabilitação de defesas do cais, a recuperação do navio que chamou de balizador “Sambuia”, bem como a criação do Instituto Marítimo Portuário, na qualidade de órgão regulador por excelência, para dar novo corpo jurídico institucional ao sector e, consequentemente, a especialização da APGB na operação da actividade portuária. Não há crescimento sem investimento Por seu turno, o director-geral da APGB anunciou que, apesar da crise financeira internacional, a sua instituição conseguiu apresentar um balanço financeiro “altamente positivo” em 2010, algo que, a seu ver, permitiu encetar contactos com os estabelecimentos financeiros nacionais e que resultaria na concessão de uma linha de crédito na ordem dos 2.5 biliões de francos CFA para a concretização desta “gigantesca” obra. Apesar de um défice de 1.3 biliões de francos, Mário Mozante da Silva disse que a APGB, consciente da importante de pavimentação do Porto de Bissau, está determinada a manter o nível da performance financeira, de modo a garantir a cobertura total do valor em causa. Ele informou que os estudos técnicos para a realização desta obra foram financiados pela “Fundacion Puertos” de Las Palmas (Espanha), no quadro de cooperação bilateral inter-portuária. Mozante da Silva indicou ainda que, actualmente, a APGB goza de um parque para cerca de cinco mil contentores, não esquecendo de evocar os constrangimentos que os utentes do porto enfrentam, sobretudo no período de campanha de exportação da castanha de caju. E com a pavimentação do recinto portuário, disse que a sua instituição passará a ter uma capacidade de estocagem de mais de 72 mil contentores e a beneficiar de uma redução em cerca de 60 por cento nas avarias com os equipamentos e respectivos tempos de rotação de máquinas e de espera de navios no cais. Tudo isso, além de proporcionar uma “poupança significativa” em termos de encaixe financeiro. No seu ponto de vista, não há crescimento sem investimento. E para crescer, adianta, é preciso criar infra-estruturas que visem impulsionar a economia nacional e tornar o Porto Comercial de Bissau mais competitivo. Texto: Ibraima Sori Baldé Foto: Pedro Fernandes |
Actualizado em Sexta, 29 Abril 2011 18:10 |
Governo adquire dois navios, orçados em € 1,8mi
Fonte: site do jornal Nô Pintcha (www.jornalnopintcha.com). Visite!